Audiência Pública da Cultura na Câmara de Natal

Fonte: Tribuna do Norte/Yuno Silva (Menos calotes, mais ações/09/junho/2011)


Artistas presentes à audiência tiveram direito a voz e levantaram questões como maior transparência nas ações da Capitania das Artes
Yuno Silva   Artistas presentes à audiência tiveram direito a voz e levantaram questões como maior transparência nas ações da Capitania das Artes
A representatividade foi qualificada, mas poucos artistas participaram da Audiência Pública realizada na manhã de ontem, na Câmara Municipal de Natal, para tratar das políticas públicas para o segmento cultural. Na berlinda, a Fundação Cultural Capitania das Artes, bombardeada por questionamentos e cobranças. Iniciada por volta das 9h30, a Audiência colocou gestores da Funcarte e representantes de movimentos culturais frente a frente para um debate franco sobre questões recorrentes como débitos e ausência de ações capazes de fomentar e incentivar a produção artística na capital potiguar.
Roberto Lima, presidente da Capitania das Artes, foi o primeiro a falar: comentou sobre a dificuldade financeira da Funcarte; reforçou o papel das instituições públicas no fomento à produção artística; disse que a Funcarte já está  com o nome limpo nos Ministérios da Cultura e do Turismo; e repetiu que a gestão municipal passa por uma nova fase de "administração colegiada", onde "a Capitania das Artes faz parte do núcleo de Segurança, Turismo e Empreendedorismo Cultural". Até aí, nada de novo.
Já Fábio Lima, representante do MinC, se mostrou preocupado com a morosidade de Natal em se inserir no Sistema Nacional de Cultura: "Não adianta termos ações no MinC se os Estados e os Municípios não aderirem, não seguirem as diretrizes propostas." Também falou da deturpação em projetos que gastam mais verba com estrutura e banheiros químicos. Até aí, também nada de novo no reino da capital papa-jerimum. As amenidades entre os membros da mesa que coordenou os trabalhos durante a Audiência Pública deu a tônica do debate: "Estamos aprendendo a espernear com diplomacia", brincou Paulo Sarkis, vice-presidente do Sindicato dos Músicos do RN e membro do colegiado Fórum Nacional de Música do MinC.
Reclamações
 Mas foi o próprio Sarkis que começou a engrossar o caldo. Músico da Orquestra Sinfônica do RN, ele foi enfático ao afirmar que "as leis existem, elas só precisam ser respeitadas. Eu duvido que a lei orgânica do município não preveja recursos para o setor cultural". O músico citou um exemplo bem prático para ilustrar seu descontentamento com o política municipal: "A placa que a prefeitura colocou no Buraco da Catita dá conta da recuperação do espaço, quando apenas houve a recuperação do passeio público. A prefeitura parece que se aproveita da situação, suga o artista. Inclusive, prometeram cachê de 200 reais para os músicos que participaram da reinauguração e até hoje ninguém recebeu nada", desabafa.Jorge "Negão" dos Santos, músico e membro do Conselho Municipal de Cultura, também formou a mesa e disse estar contente com o fato dos artistas terem partido para realizar trabalhos de forma independente. "Não é o ideal, mas temos que parar de sair por aí com o pires na mão. Hoje vivemos em um momento interessante com o funcionamento do Fundo de Incentivo à Cultura - FIC, porém, analisando os projetos, noto que nossos artistas ainda não estão prontos para elaborar projetos, e cabe ao Estado qualificar essas pessoas", sentencia.Disse que a baixa participação na Audiência deixa de impressionar os gestores: "Era o momento ideal para mostrar nossa força, não adianta só ter representatividade".Esso Alencar discorda, disse que os artistas estão se reunindo, se organizando, e que "em breve poderemos reverter esse quadro. Queremos propor, construir junto", disse. E acusou a inciativa privada e as Fundações de Cultura de não possibilitar o crescimento cultural e educativo da sociedade. "Não há propostas para formar plateia, não há como dar visibilidade a novos artistas", verifica.A chapa esquentou mesmo quando a produtora Ilana Félix e ex-assessora técnica da Funcarte tomou a palavra. "Ouço todo mundo reclamando de que não há orçamento. Como assim? Eu mesma fiz o Planejamento Plurianual - PPA quando estava da Capitania e sei que tem orçamento, o que não há é execução orçamentária", disse. Ilana lembrou que quando começou a trabalhar na Funcarte como assessora técnica, em 2005, o orçamento era de R$ 990 mil. "Conseguimos ampliar para R$ 4,3 milhões nos anos seguintes e muita coisa acontecia. Agora em 2011, a Capitania tem mais de 13 milhões e não vemos nada sendo feito", analisa.Elencou problemas e chamou atenção para possíveis ilegalidades em contratos da Capitania, declaração prontamente rebatida por Roberto Lima: "Quero que você me envie por escrito onde estão essas ilegalidades para que possamos sanar os problemas", desafiou o presidente da Capitania. Ainda segundo Ilana, a lei municipal determina que, após 30 dias da publicação da Lei Orçamentária Anual - LOA, o FIC precisa publicar seus editais - "A Loa foi definida em fevereiro, estamos em junho e até agora nada".A vereadora Júlia Arruda (PSB) terminou de entornar o caldo: reforçou a inclusão da questão cultural nos debates sobre a Copa do Mundo 2014 e disse que o remanejamento de recursos da Funcarte para a Semopi (Obras e Infraestrutura) demonstra "que a Cultura não é prioridade nesta gestão municipal."

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FÓRUM PAUTA MUDANÇA NA GESTÃO DE CULTURA DO RN

CARTA ABERTA DO FÓRUM POTIGUAR DE CULTURA AO GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE E AOS ARTISTAS POTIGUARES

FÓRUM REALIZA IX ENCONTRO